Capítulo 65
854palavras
Naquele dia, ele deu três suspensões em sequência. Uma delas foi para Gregori. Quando deu o intervalo, Cristina foi tirar satisfações. Afinal, podia não gostar do garoto, mas ele sempre fora comportado e bom aluno.
- Ele mereceu – disse ele, conciso, ainda sem dar confiança.
- Mas por quê? – insistiu ela – Sabe, eu ouvi dizer que Isabella estava no meio e quase também foi suspensa. Você precisa e vai me dizer o que minha filha fez.
James hesitou. Então enfiou a mão no bolso e pegou um papel.
- Por isso.
Cristina olhou o papel.
- Mas isso é uma advertência. Do tipo que as irmãs usam.
- Sim. Isabella me entregou.
- O que está escrito?
James endireitou os óculos, pigarreou e aproximou o papel.
- James Edward Colbert. Advertência gravíssima: suspensão. Motivo: excesso de viadagem.
Cristina mordeu o lábio inferior para não rir.
- Mas como Isabella estava no meio disso? Ela não parece esse tipo de garota.
- E não é. Os garotos a enganaram. Pediram para ela entregar isso para mim. Quando ela viu o que era, ficou mais roxa que a sua blusa. Não sabia de nada, evidentemente. Por isso que não foi suspensa. Para mim, foi tudo obra do seu sobrinho.
Cristina se lembrou de Gregori quebrando o lápis e assentiu. O garoto tinha mesmo cara de vingativo.
James dobrou o papel e enfiou novamente no bolso.
- Não posso dizer que eu não avisei – disse ela – Você tem um jeitinho, sabe.
- Ah, eu sei.
Cristina ergueu as sobrancelhas.
- Ah, eu sei? Como assim? Descobriu seu verdadeiro eu agora, é?
- Se eu dissesse que sim, você não ficaria surpresa, ficaria?
Cristina se virou lentamente para ele, só para encontrar uma ausência total de humor. Ele não estava de brincadeira.
- Meu Deus! – exclamou ela assim que a mensagem bateu no cérebro – Eu sabia! Eu sempre soube!
- Não use o nome dele em vão – alertou ele, sério.
Cristina colocou as mãos no rosto, espantada, ainda processando a informação.
- Então você é gay! Eu sabia.
- Não. Bissexual.
Cristina o olhou com humor, pensando que ele estivesse brincando. Não estava. Então ela desmanchou o sorriso.
- Bem – começou depois de pigarrear – Tenho uma opinião bem forte sobre bissexuais.
- E qual é?
- Tudo gay.
James a olhou, ofendido.
- Então sou gay sem saber há anos?
- Não, claro que não. Você sabe. Sempre soube, provavelmente a vida toda. Mas é bem mais fácil para você fingir que é hétero, entenda.
- E no que você se baseia para ter essa opinião?
Cristina o encarou.
- Você já transou com um homem?
Ele não respondeu nada a princípio, desconcertado pela pergunta.
- Sim ou não?
- Sim – assumiu ele, desviando o olhar do dela como se estivesse confessando algo vergonhoso.
- Foi igual a transar, por exemplo, comigo? Uma mulher?
- Claro que não. São duas coisas muito diferentes.
- Exatamente! São duas coisas muito diferentes. Como se pode gostar dos dois ao mesmo tempo? Você tem que convir que não é como gostar de chocolate e baunilha.
- Pois eu creio que é uma metáfora plenamente aceitável.
- Eu acho que não. Acho que bissexualidade é a homossexualidade ainda com um pezinho no armário. Quando você pensa em transar com alguém do mesmo sexo que você, e aceita a ideia, não tem realmente volta.
- Você interpreta pessoas como se fossem computadores, Cristina. Não é assim. Não necessariamente se sente atração por só um sexo. Se você é assim, não interprete os outros pela sua perspectiva.
Cristina sacudiu a cabeça, exasperada.
- Não, isso não é honesto.
- Se eu falasse que você é uma linda mulher, tenho certeza que acharia honesto.
Cristina sorriu, lisonjeada.
- Então posso achar que estamos bem novamente?
James hesitou.
- Pode. Já faz muito tempo. Mas não vou ser seu amante de novo.
- Nem eu quero. Você é evidentemente gay.
- Outras mulheres bonitas não pensam como você.
- Como, por exemplo?
- Isabella, a mais entusiasmada das fãs do meu fã-clube não oficial nesse colégio – respondeu ele com um sorrisinho.
Subitamente, pareceu que uma bola de cimento caíra no estômago dela.
- O que... você está... você está interessado nela, James?
Ele hesitou novamente.
- Não se atreva – ameaçou Cristina – Ela é sua aluna. E minha filha. Se fizer isso, te cubro de processos até você perder sua vida.
James riu, um riso que podia ser tanto zombeteiro como nervoso.
- Para com isso, Cristina.
Mas ela não podia. Não quando estava vendo a roda da fortuna girar daquela maneira tão perversa.